Terceiro Lugar: Onde a Comunidade Mora

Na época em que o contato era muito mais limitado, uma frase era suficiente para resumir os encontros: me encontre na praça. Local e hora marcada, não tinha nem como ligar para inventar uma desculpa qualquer. Era deselegante não aparecer e o ghosting não era verbo àquela altura do campeonato.

A pracinha era o terceiro lugar de muita gente, o epicentro das boas conversas, da troca de olhares, dos passeios. Com uma crise na socialização que se acentua desde a última pandemia, onde é que foi parar no mapa o espaço para a comunidade acontecer?

O conceito de terceiro lugar, termo foi cunhado pelo sociólogo Ray Oldenburg no livro The Great Good Place (1989), vem sendo destaque nos debates para além do comportamento. A casa seria o primeiro lugar e o trabalho seria o segundo, isso desde os primórdios da urbanização/civilização. As conexões sociais e o estabelecimento de laços parece ser inerente a um espaço de convívio. 

Se a praça, a livraria ou a cafeteria da esquina é frequentada sempre pelas mesmas pessoas, talvez até num mesmo horário específico, fica mais fácil formar uma rede de contatos que não se resume a networking. O lance é outro, é lazer, distração, leveza.

Foto: SESC Ipiranga / Divulgação

Ter um espaço físico para a informalidade vem sendo apontado como uma necessidade contemporânea em tempos de desalento. Quem está perdido, ali encontra-se, longe das preocupações mundanas, familiares e, especialmente, de trabalho. 

Com as oportunidades híbridas ou remotas, a sensação de não-pertencimento se acentua, já que os lugares estão todos misturados. Em casa trabalho para uma empresa, exerço funções domésticas, converso virtualmente e me entretenho com qualquer sugestão de alguma plataforma digital.

Será que isso é suficiente? Fato é que, como seres humanos, não conseguimos nos preencher só na intocável vida on-line, o que corrobora com a chamada epidemia da solidão. Mesmo inseridos ainda no ambiente urbano, precisamos de um abrigo longe das obrigações do lar e da formalidade do trabalho, onde o senso de comunidade se fortalece, o vínculo se preenche por novas possibilidades, a economia circula, o movimento torna os bairros mais vivos e, consequentemente, seguros.

A Frankie acredita no desenvolvimento regional sustentável, conceito que abraçamos como nosso ideal, e na cidade de 15 minutos, onde as pessoas tendem a fazer mais coisas por perto, fortalecendo o comércio local e reduzindo a necessidade de grandes deslocamentos. É bom para a economia local, pro meio ambiente e, principalmente, para a nossa qualidade de vida.

Brunella Nunes

Brunella Nunes é jornalista, produtora de conteúdo, pesquisadora de tendências e futurista.

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